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  • Foto do escritorLygia Canelas

Uma UX com poderes biblioteconômicos trabalhando com Engenheiros de Software

Para quem não sabe sou uma UX Designer com formação em Biblioteconomia, e com isso tenho certos poderes biblioteconômicos. Quanto maior o poder, maior a responsabilidade rs.


Vamos lembrar que profissionais da Biblioteconomia são responsáveis por:


Tratar a informação e torná-la acessível ao usuário final, independente do suporte informacional. Esse profissional também tem a responsabilidade de identificar a demanda de informação em diferentes contextos e considerando a diversidade do público. (Wikipedia)

Outra definição interessante é que profissionais da Biblioteconomia tornaram-se uma espécie de Agentes da Informação, atuando muitas vezes como pessoas gestoras da informação. Concordo 100% com isso.


Um dia conto mais sobre essa evolução de carreira, de Biblio para UX. Hoje, quero falar sobre como os poderes de uma Biblio aliados aos poderes de uma UX podem ser super produtivos em um projeto.


Trabalho em uma empresa de mídia e comunicação, mais especificamente em um time que entrega dados estruturados e de interesse para consumo de stakeholders, possibilitando expansão de conhecimento sobre conteúdos publicados.


Em determinado momento trabalhando nesse time, tivemos a contratação de profissionais da engenharia de software. Como parte da entrevista, tínhamos um bate-papo informal com a pessoa candidata, no qual toda a equipe podia fazer e responder perguntas.


Em um desses encontros, uma candidata me fez uma pergunta direta: “O que uma UX está fazendo em um time que só tem engenheiros de software e desenvolvedores?”


O que uma UX está fazendo em um time que só têm engenheiros de software e desenvolvedores?


Essa pergunta dela marcou pontos comigo! É pertinente e nos deu a oportunidade de explicar como uma pessoa UX atua naquele time altamente técnico.


Eu já tinha a resposta na ponta da língua, pois já estava naquela equipe há mais de um ano, e para nós, estava claro como o trabalho de UX Design era fundamental. No início da minha atuação, levamos um tempo para amadurecer essa relação e definir como eu contribuiria, considerando os objetivos do time.


Antes de te contar qual foi a resposta que dei para a candidata, precisamos relembrar um conceito importante.


Design Centrado no Usuário


O Design Centrado no Usuário (DCU) é a base para o trabalho de UX Designers e representa uma mudança significativa na abordagem de desenvolvimento de produtos e serviços. Antes, os projetos eram guiados apenas pelos objetivos do negócio e pela capacidade tecnológica disponível, negligenciando o elemento mais importante: as pessoas que utilizam o serviço ou produto.


Com o DCU, os sistemas são projetados levando em consideração as necessidades, comportamentos e percepções dessas pessoas, tornando-os mais intuitivos e eficientes.


A pessoa UX Designer concentra-se nas pessoas, trabalhando com diversos segmentos e atuando no desenvolvimento de soluções para problemas reais. Independentemente de ser um sistema de software ou uma solução de gestão de dados, o foco permanece no ser humano e na resolução dos desafios enfrentados.


Algumas ações que UX Designers podem aplicar para apoiar o desenvolvimento de produtos e serviços incluem:

  1. Relembrar os objetivos de negócio e as necessidades das pessoas, garantindo que a solução atenda a ambas as partes, promovendo melhor conversão, redução de custos e aumento de receita.

  2. Aplicar técnicas de pesquisa e descoberta para identificar a causa raiz dos problemas e compreender as reais dores das pessoas que utilizam os produtos e serviços.

  3. Utilizar dinâmicas e metodologias colaborativas para facilitar a comunicação entre os membros da equipe e documentar hipóteses e soluções, o que também auxilia no foco e na produtividade das reuniões ou dinâmicas.

  4. Fornecer insights sobre usabilidade e experiência das pessoas que utilizam o produto para garantir que a solução seja intuitiva e eficaz.

  5. Documentar o processo de design de forma clara e acessível para que todas as partes interessadas possam acompanhar e entender o progresso do projeto.

Embora profissionais de desenvolvimento possam realizar algumas dessas ações, o papel da pessoa UX Designer é fundamental para preencher “buracos” na abordagem. UX Designers trazem uma perspectiva estratégica, focada no ser humano e na usabilidade, que complementa o trabalho técnico de desenvolvedores.


Com a evolução do DCU para o Design Centrado na Humanidade (DCH), UX Designers passam a preocupar-se com o ser humano, além do usuário, pois o ser humano é parte de uma sociedade complexa enfrentando muito mais desafios do que o uso de um produto ou serviço.


O DCH enfatiza a importância de resolver problemas de forma sistêmica, considerando os impactos no ecossistema, na comunidade e no mundo em geral. Outra premissa do DCH são os testes e refinamentos contínuos que garantem que o valor entregue seja constantemente melhorado. É justamente a colaboração com a comunidade que permite que as soluções sejam desenvolvidas com o envolvimento ativo das pessoas e das partes interessadas.


Quem está lá para lembrar o time de tudo isso? Sim, a pessoa UX Designer. Euzinha, nesse caso!


Mas, meus poderes biblioteconômicos acabam por se manifestar quase sempre, o que é ótimo! E nessa experiência (assim como em muitas outras), não foi diferente.


Repare nos itens 2 e 5, que mencionei um pouco antes neste texto:


2. Aplicar técnicas de pesquisa e descoberta para identificar a causa raiz dos problemas e compreender as reais dores das pessoas que utilizam os produtos e serviços.


5. Documentar o processo de design de forma clara e acessível para que todas as partes interessadas possam acompanhar e entender o progresso do projeto.


Sobre o item 2, a bibliotecária que vive em mim sabe da importância fundamental de uma boa pesquisa de usuário antes de qualquer projeto, afinal, estamos tentando atender às necessidades de pessoas.


Está em nosso escopo de habilidades e competências, definir o perfil dos usuários e descobrir suas reais necessidades de informação. Para isso, dá-lhe pesquisa!


Já sobre o item 5, se a informação não estiver disponível para ser aplicada na hora em que se precisa dela, essa informação não serve para nada, pois praticamente é como se ela não existisse.


O projeto teve uma pesquisa extensa com as pessoas que utilizam o produto, e obtivemos diversos insights e pontos de vista a respeito de diferentes aspectos do projeto: conteúdo, métricas, satisfação, entre outros pontos.


Cada resposta foi tabulada em uma tabela no Notion, tagueada conforme o aspecto do projeto e relacionada à hipótese inicial da pesquisa. Dessa forma, foi simples recuperar, consultar e confirmar informações necessárias no momento de brainstorming junto ao time.


Tabulação e classificação de dados obtidos em pesquisa de usuário. Fonte: Autora, 2023

Ações e entregáveis de um UX Designer em um time de engenharia de software


Agora, darei alguns exemplos de ações concretas que apliquei utilizando os meus outros poderes de UX Designer para apoiar os processos de desenvolvimento e melhorias da arquitetura de software em nosso projeto.


O que o time precisava resolver?


O time precisava rever e discutir algumas hipóteses de soluções técnicas para rever toda a arquitetura de um software. Essa re-arquitetura tinha por objetivo resolver antigas dores do produto e criar um processo melhorado para sua utilização por sistemas e pessoas.


Os desafios que o time estava enfrentando?


Cada hipótese trazia impactos diversos tanto para o time quanto para o cliente. Esses impactos eram do tipo:

  • Tempo e custo de desenvolvimento;

  • Como entregar maior valor para o cliente e em menos tempo;

  • Dúvidas sobre o funcionamento de plataformas e sistemas que conversavam ou se integravam de alguma forma com o nosso serviço;

  • Velocidade: solução paliativa e rápida versus solução ideal a longo prazo;

  • Colocar todos os desenvolvedores a par da situação;

  • Chegar a um consenso, escolher uma solução.


Como o UX Designer apoiou o time?


Tínhamos muito pouco tempo, agendas concorridas e muitas demandas acontecendo.

Inicialmente, foi preciso recuperar toda a informação que já existia sobre o que precisava ser desenvolvido e para quem, todas as conversas anteriores, documentações, tudo foi consultado novamente para que o time pudesse ter em mãos todas as informações legadas e não partir do zero.


Portanto, como UX:

  • Revisitei a pesquisa de usuário, trazendo os pontos fundamentais.

  • Alinhei o time em relação às expectativas de prazo e valor para o cliente.

  • Montei uma dinâmica na qual as hipóteses de solução já pensadas pudessem ser compreendidas e discutidas.

A dinâmica contou com o apoio visual de um template no qual tínhamos:

  • Uma seção inicial contendo a motivação inicial: porque estávamos discutindo aquele assunto? O que queríamos? Qual era o objetivo do time?

  • Uma seção com pontos de atenção: informações fundamentais para nos lembrar sobre necessidades do usuário, regras de negócio, débitos ou desafios técnicos, prazos, entre outras informações que precisávamos considerar a cada decisão tomada.



Fonte: Autora, 2023
  • Seção dedicada aos diagramas de cada uma das hipóteses, ou seja, os desenvolvedores precisavam explicar a hipótese do ponto de vista técnico por meio de um diagrama, enfim, uma linguagem gráfica visual entendível pelos desenvolvedores. Do lado esquerdo, a hipótese seria explicada em uma linguagem mais humana, traduzida para não desenvolvedores. Do lado direito, no retângulo maior, ficaria o diagrama.


Fonte: Autora, 2023

  • Após discutir cada uma das hipóteses, seus processos, impactos e vantagens, o time precisava escolher uma das hipóteses para ser validada. A partir disso, era preciso descrever cada uma das etapas da sua possível implementação, considerando os riscos de cada fase.


Fonte: Autora, 2023

Com tudo isso documentado, foi possível que o time criasse as histórias, as tarefas e suas subtarefas. Era preciso testar e validar se aquela hipótese seria a mais adequada para solucionar o problema.


Esse template acabou servindo como documentação para novos colaboradores entenderem quais processos haviam ocorrido em relação àquela solução e às hipóteses consideradas.


Durante todo o tempo, eu apoiei na condução da dinâmica, das perguntas e provoquei o time a pensar e lembrar daqueles “pontos de atenção” que tínhamos mapeado inicialmente. Eu fui a verdadeira “advogada do diabo”, provocando o time a discutir e refletir sobre cada decisão e seus impactos na experiência final.


O template completo ficou assim: simples, porém prático.


Fonte: Autora, 2023

Perceberam que em nenhum momento aqui tivemos o design de interface? Bom, se você estava no grupo daqueles que imaginam que UX Designers atuam somente “desenhando telas”, tenho certeza de que, após a leitura desse artigo, você descobriu uma série de ações super importantes que a pessoa UX pode desenvolver para auxiliar o desenvolvimento de um produto ou serviço, incluindo sistemas mais complexos.

Também espero ter destacado como a Biblioteconomia tem uma relação bastante próxima e enriquecedora com a área de UX Design, principalmente quando estamos falando de conhecer o usuário para o qual estamos desenvolvendo um serviço e quando documentamos, classificamos e possibilitamos a recuperação e o acesso de dados e informações essenciais para um projeto.


 

Esse artigo foi publicado também no site IA Biblio BR.






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