Quantos contratos, atas de reunião de condomínio, bulas de remédio, comunicados, placas você "leu" e NÃO ENTENDEU NADINHA?
E esses TERMOS de aceite, de privacidade, que aparecem quando você baixa um aplicativo no celular ou assina um serviço digital, ou ainda cria um cadastro em um loja ou plataforma online?
Você costuma ler esse tipo de texto até o fim? Eu confesso que não leio... kkkk.
Muita gente não lê, muita mesmo!
A razão é óbvia: tratam-se de textos longos, prolixos e cheios de jargões.
Muito juridiquês, termos técnicos, frases e parágrafos que mais parecem labirintos feitos pra você desistir da leitura.
Quer um exemplo? Regulamentos de Biblioteca... UI! Pisei no calo, agora, hein?
Porque precisamos aprender sobre Linguagem Simples?
Para melhorar nossa comunicação textual e nossa documentação de orientação aos
usuários, como por exemplo:
manuais, regulamentos e normas
projetos, solicitações por escrito
tutoriais, treinamentos
comunicados, cartazes
layouts e interfaces digitais
mensagens de e-mail
atendimento presencial
atendimento virtual
e muito mais, muito mais mesmo... incluindo toda a experiência textual que existe ao utilizamos um produto ou serviço, seja ele digital ou não.
Veja esse cartaz do metrô antes de ser editado pela linguagem simples:
Veja como ficou:
Parece tão óbvio depois que a gente lê a segunda versão, editada com linguagem clara, não é mesmo?
Tem mais exemplos que demonstram que tanto a linguagem, quanto a forma com que o texto é formatado favorecem a comunicação mais clara, concisa e direta.
Esse exemplo e outros a seguir foram trazidos pela jornalista Heloisa Fischer. Já vou falar dela.
Agora, veja a lei editada a partir da linguagem simples e uma nova formatação visual:
Mais um exemplo seguido por sua edição melhorada, trata-se da comunicação de uma circular em um hospital:
A comunicação deve ser fluida e respeitar os diferentes níveis de escolaridade e de vocabulários das pessoas.
Sendo simples na comunicação você permite que o usuário aprenda e se torne apto,
autônomo e alcance os objetivos desejados. Evita erros, dúvidas, mal entendidos etc.
Assim, a comunicação, o conhecimento e a informação torna-se democrática.
A história da Linguagem Cidadã ou Linguagem Simples, começa a partir da Plain Language.
A Rede de Ação e Informação em Linguagem Simples (PLAIN) é um grupo de trabalho voluntário de funcionários federais de diferentes agências e especialidades que apóiam o uso de comunicação clara em todo conteúdo textual produzido pelo governo.
A rede existe desde 1990 e tem por objetivo promover o uso de linguagem simples em todas as comunicações governamentais.
"A linguagem simples torna mais fácil para o público ler, entender e usar as comunicações governamentais."
O termo vem do inglês Plain Language, que significa:
fácil de entender, ver e ouvir
sem nada a esconder
direto e franco
simples e comum
Escrever em linguagem simples exige prática e mais prática. Existem 3 princípios norteadores básicos:
Palavra: opte sempre por uma palavra conhecida que possa ser reconhecida pelo vocabulário do público com quem se fala ou se comunica algo em texto.
Frases: use frases curtas, blocos “arejados”, seja objetivo e deixe o texto respirar.
Design da Informação (infodesign): a maneira como a informação está distribuída no suporte no qual ela está (cartaz, tela, documento A4, etc).
A linguagem simples no mundo
A rede PLAIN transformou a linguagem simples no formato padrão de comunicação em 20 países e mais de 10 idiomas. Aqui no Brasil, temos um movimento acontecendo já há algum tempo, liderado principalmente pela jornalista Heloísa Fischer. A jornalista também é pesquisadora na área e escreveu o livro: “Clareza em textos de e-gov, uma questão de cidadania”.
Ela é fundadora da Comunica Simples, uma assessoria de aprendizagem de Linguagem Simples.
A assessoria tem como objetivo ajudar a implementar a cultura da Linguagem Simples na comunicação de pessoas e organizações. Esse post que você tá lendo também foi publicado no nosso site contendo mais links e informações sobre esse tema.
A luta da Heloisa e de outros profissionais que defendem a linguagem simples é torná-la uma lei brasileira. Segundo o Saeb (Sistema de Avaliação da Educação Básica) de 2017, apenas 1,62% dos alunos do EM termina os estudos com um conhecimento adequado na língua portuguesa.
A linguagem simples torna a comunicação acessível a todos.
Vale lembrar que no site Plain Language existem Guidelines para auxiliar na escrita simples.
A gente adora um exemplo
Agora quero te mostrar como podemos aplicar a linguagem simples em um regulamento de biblioteca de universidade, um documento que geralmente é carregado de termos jurídicos e que causa diversas dúvidas em usuários.
Primeiro trecho do regulamento original:
Como poderia ficar mais simples:
Sobre este documento
“Este documento apresenta as normas de funcionamento da Biblioteca X”.
Mais um trechinho pra gente traduzir:
Sobre os dias e horários de funcionamento
A biblioteca funciona de segunda a sexta-feira, das 8h às 22h, e aos sábados das 9h às 13h, no entanto, o horário de atendimento ao público se encerra 10 minutos antes, acompanhe:
- de segunda a sexta-feira: das 8h às 21h50
- aos sábados: das 9h às 12h50
Período de férias da instituição
Quando a universidade entra em período de férias (geralmente em Dezembro, Janeiro e Julho) o horário de funcionamento da biblioteca é alterado.
Neste período, recomendamos que você verifique os horários atualizados em nosso site: www.paginadabiblioteca.com.
Essa informação do horário de funcionamento versus horário de atendimento ao público sempre causou dificuldade no entendimento das pessoas usuárias em nossa biblioteca. Isso porque a equipe de colaboradores encerra o atendimento 10 minutos antes do fechamento da biblioteca, e utiliza esse tempo para finalizar atendimentos, desligar luzes, computadores, etc.
Simplificando, temos:
Sobre atrasos na devolução de materiais emprestados
Caso os materiais emprestados sejam devolvidos fora do prazo previsto, será calculada uma multa pelos dias de atraso.
Neste cálculo são considerados dias corridos de atraso: ou seja, consideramos todos os dias da semana, incluindo os sábados, recessos e feriados (exceto o domingo).
A biblioteca concede um dia de tolerância após a data prevista para devolução dos materiais emprestados e não inclui esse dia no cálculo da multa. Exemplos:
Situação 1:
Data prevista para devolução: 12/06/2021
Data em que o aluno devolveu: 13/06/2021
Nessa situação, o aluno não vai pagar multa, pois devolveu um dia depois da data combinada para devolução.
Situação 2:
Data prevista para devolução: 12/06/2021
Data em que o aluno devolveu: 20/06/2021
O dias considerados para o cálculo da multa serão 14, 15, 16, 17, 18, 19 e 20/06. O dia 13 não entra para o cálculo da multa.
A cada semestre, a instituição atualiza o valor fixo aplicado para o cálculo das multas.
Além da linguagem simples existem outras dicas importantes pra quem vai escrever na web. Confira em Alguns princípios para uma ótima experiência da leitura na web.
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